Guerra e paz

Reginaldo Villazón

Arte é criação, expressão de sentimentos, comunicação. A humanidade faz arte desde a pré-história. As pinturas e esculturas primitivas contam parte do cotidiano dos primeiros humanos no planeta. Com o passar dos tempos, a arte foi tomando mais espaço na vida humana. Hoje, a literatura (em prosa e verso), a pintura, a escultura, o teatro, o cinema, a música, a dança e outras formas artísticas dão cores e sentidos à vida. Ainda que um artista crie arte sob encomenda, os sentimentos e a comunicação estão presentes nela.

O espanhol Francisco de Goya (1746 – 1828) foi grande pintor e gravurista. Após os estudos e experiências na pintura, ele atingiu o cargo de pintor oficial da realeza espanhola. Mas uma doença o fez amadurecer e ver a vida com mais reflexão. De 1810 a 1815, criou uma série de 82 gravuras ("Os desastres da guerra"), mostrando os horrores da Guerra da Independência Espanhola. Mostrou cenas de completa insensatez.

Outro gênio espanhol, Pablo Picasso (1881 – 1973), foi pintor e escultor. Era simpático às idéias anarquistas e comunistas. Teve oportunidade de participar de três guerras, mas não aderiu a elas. Em 1937, pintou o famoso painel "Guernica", em preto e branco, com tintas a óleo sobre tela de 7,76 m (largura) x 3,49 m (altura). Representou o terror na cidade espanhola de Guernica sob o bombardeio de aviões alemães, em 26 de abril daquele ano. A ação bélica covarde foi uma "ajuda" de Hitler ao golpista general Francisco Franco.

O pintor brasileiro Cândido Portinari (1903 – 1962) também usou a arte para expressar o sentimento de repulsa à guerra. Em contrapartida, para valorizar a paz. Filho de imigrantes italianos, nasceu numa fazenda de café, no município de Brodowski, interior do Estado de São Paulo, próximo a Ribeirão Preto. Jovem, foi para o Rio de Janeiro estudar na então Escola Nacional de Belas Artes e mais tarde foi se aprimorar em Paris. Suas convicções e raízes fizeram dele um artista moderno e refinado, focado em questões sociais.

De 1952 a 1956, Portinari projetou e pintou dois painéis de 10 m (largura) x 14 m (altura) cada um, com tintas a óleo sobre compensado naval, para compor a decoração do novo prédio da ONU em Nova York. Os painéis "Guerra e Paz" foram instalados no recinto de entrada do salão da Assembléia Geral. Em 2010, aproveitando uma reforma no prédio, a ONU retornou os painéis ao Brasil para restauração e mostra ao público. Em três exposições (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte) foram vistos por 320 mil visitantes.

Nesta semana, em Paris, foi inaugurada a exposição (07 maio a 09 junho) dos painéis "Guerra e Paz" no salão nobre do Grand Palais de Beaux-Arts, com a presença de autoridades da ONU, do Brasil e da França. A expectativa é de receber 300 mil visitantes. Após esta única exposição na Europa, os painéis serão devolvidos à sede da ONU.

As guerras perderam a força do patriotismo, o sentido de amor à pátria, o brilho do heroísmo. As aflições, dores e perdas não têm mais justificativas. A arte contribui para sensibilizar as pessoas contra as guerras. Quem tem a felicidade de admirar estas extraordinárias obras de arte sobre as guerras, torna-se uma pessoa melhor.

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