CINISMO E MIOPIA NO PAÍS DA COPA: QUEM PARIU OS BLACK BLOCS QUE OS BALANCEM

Por Silvio Luiz de Souza Coutinho e Sergio Luiz do Amaral Moretti



"Se os militares tomassem o poder não estaria essa baderna!" Frases desse tipo foram cada vez mais ouvidas ou lidas nas páginas do Facebook e outras redes sociais à medida que os protestos no Brasil foram aumentando.

"Quem esses baderneiros pensam que são para quebrar propriedades privadas que foram conquistadas com o suor de seus donos?". Essa, por sua vez foi ouvida com o surgimento dos "Black Blocs" (mascarados desordeiros e depredadores).

E mais "no tempo da ditadura esses desordeiros não teriam coragem de aprontar". Parte da população começou até mesmo a questionar a Polícia Militar por não ter usado mais força bruta nos manifestantes. Alguns mais afoitos pediam a volta das Forças Armadas ao poder.

"Muita calma nesta hora" diriam os que viveram esta fase negra. A sociedade de consumo produz muitos deserdados que vivem à sua margem como meros expectadores do espetáculo do consumo e, também da desfaçatez dos nossos políticos que não têm olhos e muito menos vontade de meter a mão na massa para resolver a situação. As favelas tomadas pelo tráfico e milícias, as prisões dominadas pelo PCC, as torcidas se matam, a polícia arrasta pessoas pelas ruas, a corrupção não tem mais vergonha de mostrar sua cara e todos fingimos que o país da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, cresceu e se tornou um país sério.

Alguns dos que não são parte da festa do consumo, do país de ficção padrão Globo de qualidade acreditam que podem fazer parte do sistema, por bem ou por mal, como na música do Ultrage a Rigor: "Daqui do morro dá pra ver tão legal. O que acontece aí no seu litoral. Nós gostamos de tudo, nós queremos é mais. Do alto da cidade até a beira do cais. Mais do que um bom bronzeado. Nós queremos estar do seu lado...". A letra é de 1985, trinta anos atrás.

Usar a força militar resolverá o problema? É difícil exigir ordem e diálogo de quem mal sabe se expressar criado em família disfuncional, sem acesso à cultura e ao lazer, mas que bombardeado pelo marketing quer ter as mesmas coisas que vê nas novelas. Mesmo assim, alguns abnegados decidem fazer as coisas direito e vão trabalhar, apenas para no final do mês perceber que a grana ganha honestamente não vai dar nem para o começo.

Só o compromisso nacional e uma reforma no sistema podem amenizar o ódio desses deserdados. Enquanto o Estado não tiver a vergonha e cumprir seu papel, criando condições para o desenvolvimento de cidadãos (e não apenas consumidores e eleitores), proporcionando escola, saúde, um transporte civilizado e chances para uma vida digna, não há chances de diálogo. Podem esquecer!

Se não houver mudanças profundas na forma como são desenvolvidas as relações econômicas e sociais, ainda teremos muitos junhos de 2013 pela frente "quem pariu os Black Blocs, que os balancem".

Silvio Luiz de Souza Coutinho: Acadêmico do Curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas. E-mail: silvinho.coutinho@hotmail.com

Sergio Luiz do Amaral Moretti: Prof. Dr. do Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi. E-mail: luiz.amaral@anhembimorumbi.edu.br

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