Entulhos: o mal que pode se tornar o bem

Jorge Fronho e Marçal Rizzo

A discussão de sustentabilidade no setor de construção civil atualmente ganhou destaque. Falar de sustentabilidade e praticá-la é de extrema necessidade nesse setor, por causar grande impacto ambiental ao longo do processo produtivo, desde a ocupação de terras, extração de matérias-primas, produção e transporte de materiais, construção de edifícios e, por fim, a geração de resíduos sólidos.

Hoje, resíduos sólidos têm sido produzidos em larga escala em todo o mundo. Entre estes, o chamado entulho é um dos grandes problemas para os administradores públicos, sobretudo em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

Ainda é fato que houve, nos últimos anos, um considerável avanço na qualidade da construção civil, obtido por meio de programas de redução de perdas e implantação de sistemas de gestão da qualidade. A preocupação primordial passou a ser, todavia, outra: a sustentabilidade, antes de tudo, para garantir o próprio futuro da humanidade.

A construção civil é a área que mais gera resíduos (cerca de 50% do total), e, reciclando esses entulhos, podem-se obter inúmeras vantagens, sejam elas econômicas, ambientais ou mesmo sociais. A economia de matéria-prima constitui-se no principal fator da economia, seguida da economia de energia elétrica. Do ponto de vista social, a tecnologia de reciclagem é apontada como uma das alternativas para a geração de emprego e renda. É inegável, portanto, o benefício trazido para a indústria e até para sucateiros e catadores em geral.

Prefeituras de algumas cidades, como Belo Horizonte (MG) e São José do Rio Preto (SP), já fazem uso desses recursos e têm gerado inúmeros retornos. Além de reduzir a quantidade de entulhos encaminhados para os aterros, terrenos baldios e margens de estradas, os materiais reciclados representam um custo menor.

O aproveitamento desses resíduos é uma das ações que devem ser incluídas no cotidiano das edificações, proporcionando economia de recursos naturais e minimização do impacto no meio ambiente. O potencial para reaproveitamento e reciclagem dos entulhos vindos da construção civil é enorme, além de que a incorporação desses resíduos em determinados produtos pode vir a ser extremamente benéfica, já que proporciona economia de matéria-prima e energia. A reciclagem da sucata de aço permite a produção de um novo aço consumindo aproximadamente 70% da energia gastos para produção a partir de matérias-primas naturais. Já a utilização da sucata de vidro reduz em cerca de 5% o consumo de energia. Os resíduos não reciclados têm por destino os aterros sanitários, situação que ocupa cada vez mais espaço e por consequência agregação de valor, sobretudo os de localização próxima a grandes centros. A concentração de resíduos, muito deles nocivos, significa riscos de acidentes ambientais, mesmo se tomadas todas as medidas técnicas de segurança.

Hoje, ainda é baixo o número de cidades que contêm usinas de reciclagem. Seu uso ainda não se tornou comum, em decorrência do preconceito de construtores que relacionam o baixo custo a uma provável baixa qualidade, o que não é verdade. Além disso, a instabilidade do mercado imobiliário desmotiva a construção de usinas nesse segmento, e, nos períodos chuvosos, assiste-se à baixa demanda no setor de construção civil. Assim, a geração de entulhos não é homogênea em todo o ano, o que pode trazer poucos lucros à usina de reciclagem.

O fato é que, com a iminente industrialização, reflexo das novas tecnologias, com o crescimento populacional, o aumento significativo de pessoas em centros urbanos e a diversificação do consumo de bens e serviços, os resíduos se transformaram em grave problema urbano, com um gerenciamento oneroso e complexo considerando-se volume e massa acumulados.

É necessário reafirmar que o entulho, se reciclado, é produtivo e não ocupa espaço; antes, auxilia na produção de materiais de menor custo, concorre para o aumento do valor das habitações, um dos mais caros e inacessíveis bens que produzimos, da infraestrutura, de rodovias, estradas de ferro, barragens, entre outras.

Por isso, a reciclagem desses resíduos vem-se consolidando como uma prática importante para a sustentabilidade, seja atenuando o impacto ambiental gerado pelo setor ou reduzindo custos.

Jorge Luiz Fronho de Sousa: Acadêmico do Curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas (MS). E-mail: jorgefronho@yahoo.com.br

Marçal Rogério Rizzo: Economista e Professor do Curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas. E-mail: marcalprofessor@yahoo.com.br

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