Desigualdade social

Reginaldo Villazón

A desigualdade social existe há milênios. Antes de discuti-la hoje, é preciso observar sua ocorrência histórica. Na Grécia Antiga, a classe dos cidadãos detinha os direitos de participação política e posse da terra. A classe dos estrangeiros sobrevivia do artesanato e do comércio. A classe dos escravos servia submissa aos cidadãos. Na Roma Antiga, a desigualdade social também acontecia numa estrutura social rígida. Havia os patrícios, os plebeus e os escravos, constituindo as principais classes sociais com direitos e posses muito desiguais.

Na Grécia Antiga e na Roma Antiga, a desigualdade social tinha origem na política instituída pela elite. Em outros casos, havia justificativa divina. Na Índia, as castas sociais eram (e ainda são) mantidas por hereditariedade com direitos e deveres próprios, estabelecidas numa hierarquia social de motivação religiosa. Na Europa medieval, as monarquias eram governadas pelos nobres. Os plebeus eram os súditos trabalhadores. A mobilidade social era nula. Só era nobre quem nascia nobre, por ordem de Deus.

Este pequeno relato serve para mostrar que, historicamente, a desigualdade social não se explica com justificativas inquestionáveis. Em princípio, ela não tem amparo em razões filosóficas ou científicas. Nascer em ambientes sociais diferentes – mais ou menos favorecidos – não pode ser motivo para predestinar pessoas a ocupar posições superiores ou inferiores numa escada social. Sem dúvida, a igualdade social extrema pregada pelo comunismo é impossível, mas a desigualdade deve ser limitada e há muitas razões para se fazer isso.

Num exercício ligeiro, pode-se perguntar: o que um empresário rico tem a ver com a pobreza de um trabalhador? Aparentemente, nada. Mas, o que o rico tem de mais é o que o pobre tem de menos. Pois nenhum indivíduo é tão produtivo que fique rico em decorrência apenas do seu trabalho. Sem dúvida, na economia, houve transferência de renda do pobre para o rico. Um exemplo: banqueiros (patrões) e bancários (empregados) trabalham juntos no mesmo banco e produzem bons resultados. Os banqueiros ficam ricos, os bancários não.

A questão é de repartição injusta da renda produzida. O mais forte ganha mais. Na cadeia produtiva do leite, por exemplo, trabalham: os produtores de leite, os laticínios, a fornecedora da embalagem e os supermercados. O valor pago pelos consumidores, pelas caixas de leite, é distribuído com maior ganho para a indústria multinacional fornecedora da embalagem. A desigualdade social começa nessa repartição injusta da renda. Ela reúne outras desigualdades, como de acesso à educação, à saúde, às oportunidades, à democracia.

A desigualdade social no Brasil é alarmante. A elite consumidora de produtos de luxo atrai empresas internacionais de roupas e acessórios, carros, barcos e aviões de altos preços. Em contrapartida à concentração da renda, há desnutrição, hospitais sucateados, escolas miseráveis, professores mal pagos, desemprego, violência. É certo que, comparar a pobreza brasileira atual com a de 50 anos atrás, a situação melhorou muito. Porém, os ricos ficaram mais ricos e a desigualdade ainda gera desigualdade.

Os governantes das democracias desenvolvidas procuram evitar o assunto. Mas também nos países ricos a desigualdade social resiste, afeta a democracia e causa instabilidade social. Os chefes de governo e os dirigentes das corporações privadas não conseguem enfrentar a desigualdade social dentro da lógica da economia capitalista. Não será com um golpe de caneta ou um acordo (que reduza as grandes fortunas) que resolverão o problema. Mas, como as nuvens que mudam, a economia capitalista vai ter que mudar.

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