Alcoolismo feminino

Por Elaine da Silva e Caroline Leite de Camargo

"[...] Eu só vou beber mais hoje, amanhã vou parar / Só ter uma festinha, que a galera me chama / Tenho dois apelidos: pinguço e pé de cana / Casamento, batizado, formatura, aniversário / E até chá de bebe, tô pronto pra beber [...]". Música: Eu vou beber mais hoje. Dupla: Humberto e Ronaldo. Composição de Thales Lessa.

No início, diversão e demonstração de independência. O fato é que atualmente existe até uma apologia à bebida, estando presente nas músicas, novelas e propagandas da televisão. O que era um ato quase que exclusivo dos homens ganhou ares do público feminino.

Atualmente, as mulheres bebem para ficar desinibidas e relacionar-se melhor com as pessoas. Os sentimentos de inadequação e vazio desaparecem, a solidão também evapora como mágica. A autoestima cresce na mesma velocidade com que o teor etílico sobe no sangue. O corpo se mostra resistente. Amigos e familiares costumam comentar, alguns até em tom de admiração, que elas "bebem como os homens", porque não revelam sinais de embriaguez facilmente. O que difere de uma história para outra é a maneira como cada mulher descobre que caiu numa armadilha e o tempo que demora para pedir ajuda. O que era prazeroso se torna um mergulho profundo no inferno. E não há mais controle: sozinha, ela não consegue parar.

Nas últimas décadas, observamos cada vez mais a discussão sobre os efeitos da ingestão do álcool. No mundo dos adultos, mudanças econômicas e culturais importantes – como a inserção no mercado de trabalho e o fato de que mais mulheres tornaram-se chefes de família – tiveram impacto significativo na saúde delas, e isso ajuda a explicar a busca da bebida como alívio para o stress e a pressão do cotidiano.

Com a vida social mais rica e cheia de opções, as oportunidades de beber também acabaram ampliadas. Executivas estão sempre às voltas com jantares e almoços de negócios onde a oferta de álcool é farta. Happy hours são rotina entre colegas de trabalho. Isso sem contar as baladas, que atraem as mais jovens, e os bares que abrem às 7 da manhã nos arredores das escolas e universidades. Se, anos atrás, beber era considerado "feio" para as mulheres, e isso ajudava a afastá-las do álcool, hoje o ato é amplamente incentivado.

 As mulheres apresentam características fisiológicas que as tornam mais susceptíveis aos efeitos do álcool do que os homens, além de  maior risco de desenvolver abuso ou dependência.

Mesmo levando em consideração as diferenças entre os gêneros com relação ao peso corporal, uma mesma quantidade de bebida alcoólica afeta mais rapidamente as mulheres que os homens. Elas possuem menor quantidade de água no organismo. Quando falamos sobre o uso de bebidas alcoólicas pelas mulheres, sempre surge o questionamento sobre os efeitos do álcool durante a gestação.

Para elas, ainda é importante destacar algumas consequências do uso nocivo dessa substância: suscetibilidade de sofrer abuso sexual, sexo desprotegido e violência. Ainda, nos últimos 20 anos, pesquisas científicas indicam que o consumo de álcool pode aumentar o risco de câncer de mama, sendo que, quanto maior o consumo de álcool, maior o risco.

Algumas diferenças surgem entre homens e mulheres também quando são acometidos pela dependência. Elas sofrem um enorme preconceito e são mal compreendidas na sociedade – motivo pelo qual geralmente procuram menos os serviços de tratamento. Soma-se ainda o fato de serem mais propensas a desenvolver a dependência alcoólica concomitantemente a outro transtorno mental (depressão, síndrome do pânico ou transtornos alimentares, por exemplo).

As mulheres que se tornam alcoólatras mergulham em um universo aonde, nada mais parece importar, não consegue cuidar dela mesma muito menos das pessoas ao seu redor, lares são totalmente destruídos, famílias desfeitas. O alcoolismo feminino é silencioso e geralmente as mulheres demoram a perceber que já ultrapassaram o limite e que estão dependentes do álcool. Quando percebem já estão no "fundo do poço", necessitando de ajuda médica e de grupos de apoio; o que era uma diversão e distração se torna um verdadeiro tormento.

Elaine da Silva: Acadêmica de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas (MS). ela_nanisilva@hotmail.com

Caroline Leite de Camargo: Bacharel em Direito, foi Professora Substituta de Direito da UFMS – Câmpus de Três Lagoas (MS,) é Diretora do Instituto Três Lagoas de Educação Profissional. karoll_kamargo@hotmail.com

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