Nova revolução

Reginaldo Villazón
O ser humano apresenta muitas contradições. Transita da racionalidade para a irracionalidade com desenvoltura, do prazer para a dor, da alegria para a tristeza. Isto faz que ele seja aquilo que ele é e deseja ser: humano. Sem dúvida, na sua caminhada ao longo dos tempos, as experiências o levam a evoluir de forma impressionante. Talvez – por suas contradições –, seu desenvolvimento não acontece numa linha reta ascendente uniforme. A história humana é cheia de altos e baixos, de períodos estáveis e outros de grandes eventos.
O recém-passado século XX começou no dia 01 de janeiro de 1901 e terminou no dia 31 de dezembro de 2000. É fácil avaliar o tanto de progresso humano havido entre as duas datas. Em um século, o ser humano evoluiu e transformou a vida no planeta como nunca. Descobertas científicas importantes revolucionaram a medicina, permitiram o uso pacífico da energia dos átomos, viabilizaram as explorações espaciais. A humanidade passou a se modificar rapidamente. Mas o ser humano preserva muitas contradições.
Quando se fala sobre o fim do capitalismo e o nascimento de uma nova economia, muita gente duvida com veemência ou se cala na incredulidade, mesmo diante de tantas mudanças nunca ou pouco imaginadas antes. Mas, pensando de forma racional, é difícil imaginar como os valores capitalistas crescentes e ilimitados – lucro, acumulação de riqueza, produção e consumo – podem sobreviver numa economia em que outros valores se avultam, como a sustentabilidade ambiental, a universalidade do bem-estar, a criatividade, a estética.
Recentemente, os meios de comunicação anunciaram a chegada às lojas de uma nova tecnologia, a Impressora 3D. O nome é simples, mas não se trata de uma máquina para imprimir textos em três dimensões. Ela imprime objetos criados no computador. Em outras palavras, ela fabrica objetos diretamente do computador, sem a necessidade de moldes e utilizando materiais diversos. Esta tecnologia simplifica e populariza a atividade econômica que serviu de base para a fundação do capitalismo: a produção industrial.
A impressora 3D foi criada há 15 anos nos Estados Unidos pelos cientistas da indústria aeroespacial e militar. Ela lê as características do objeto no computador e deposita o material de impressão em camadas para produzir o objeto sólido. Assim, as pessoas podem criar e produzir vários objetos, em vez de comprar os fabricados nas indústrias. Os cientistas prevêem que esta tecnologia vai se desenvolver ao ponto permitir a fabricação desde peças simples a microchips de alta tecnologia e implantes médicos sofisticados.
Os economistas apontam para um futuro com menos transporte, estoque e distribuição de mercadorias prontas. Navios vão cruzar os mares transportando matérias-primas. A criação dos produtos nos computadores e a produção deles nas impressoras 3D serão feitas em todo o mundo. A peça de um automóvel fabricado na Europa não precisará ser importada da Europa. Ela será prontamente fabricada no local de utilização.
Reflexões a este respeito podem ajudar as pessoas que desejam aproveitar as oportunidades que o mundo em transição oferece, sem abrirem mão das suas humanidades, mas deixando de lado as contradições que se tornaram perigosas. Não é tempo de desejar o progresso e resistir a ele. Mudanças causam transtornos e inquietações, mas geram muitos benefícios. Uma mudança consciente pode gerar um pequeno gesto de conseqüências relevantes.

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