DPOC: desconhecimento da doença agrava situação no país

Presente em cerca de 15% da população com mais de 40 anos, a doença respiratória deve ser diagnosticada precocemente
Caracterizada por falta de ar, cansaço aos esforços e insuficiência respiratória, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é a quarta causa de óbito no mundo, depois do infarto do miocárdio, câncer e doença cerebrovascular. Na cidade de São Paulo, dados do Projeto Platino apontam que aproximadamente 15% da população com 40 anos ou mais é portadora da doença. Projetando estes dados para a população brasileira, estima-se que isso corresponda a cerca de 5 milhões de pessoas.
A doença custa aproximadamente R$ 100 milhões aos cofres públicos por ano - sendo que cerca de 70% dos pacientes dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento, conforme aponta o relatório do Fórum DPOC e Saúde Pública: Atendendo as necessidades dos pacientes, organizado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
Segundo a dra. Mônica Corso, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), a doença representa um grave problema de saúde pública. Outro problema é que a rede pública não dispõe de número suficiente do equipamento utilizado para confirmar o diagnóstico da doença (espirômetro), revela.
"Além da cessação do tabagismo, o diagnóstico precoce da doença é uma medida imprescindível para oferecer melhores chances de tratamento ao paciente e também reduzir o alto custo da doença".
A proposta, no entanto, não é tão simples quanto parece. Ainda hoje, mesmo com a alta incidência, existem poucos centros de referência para tratamento especializado, e alguns centros que distribuem medicamentos ou avaliam o desempenho dos pacientes. Também faltam profissionais capacitados para o diagnóstico correto. Por este motivo, muitos pacientes acabam demorando a ser encaminhados ao pneumologista para a confirmação diagnóstica e orientação terapêutica, retardando a detecção da doença e gerando um impacto econômico duplo: para o paciente e para o governo.
"Infelizmente, a DPOC ainda é desconhecida por grande parte da população. Muitas vezes, o paciente acredita que a falta de ar está associada ao fumo ou à velhice, deixando de relatar estes sintomas para que o médico possa investigar corretamente a doença. Assim, vários portadores de DPOC só descobrem a doença quando são internados por insuficiência respiratória, já na fase moderada ou grave, quando o prognóstico é ruim", explica a dra. Sônia Martins, coordenadora do Grupo de Trabalho de Problemas Respiratórios (GRESP) da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).
De acordo com o dr. William Salibe, também membro do GRESP, "entidades de pneumologia apostam na prevenção para reduzir a taxa de prevalência da DPOC. Elaboramos um guia para capacitar os profissionais da atenção primária para que possam identificar o paciente sintomático. No projeto, que ainda está em desenvolvimento, damos aulas expositivas e convidamos o médico a participar de uma discussão de casos clínicos em grupo".
"A ideia é melhorar a comunicação entre pneumologistas e clínicos da rede primária através do apoio matricial. O médico da atenção primária já está deixando de ver o especialista como um encaminhador e o especialista já está deixando de ver o clínico geral como um profissional isolado. Essa interlocução é muito importante porque essa ferramenta de gestão dá suporte científico para que o médico saiba como conduzir o tratamento do portador de DPOC", afirma a dra. Sônia.

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