Greves

Reginaldo Villazón
Fatos antigos se repetem, como as greves. No dia 12 de setembro, os funcionários dos Correios iniciaram uma greve por melhor reajuste salarial. Só voltaram ao trabalho em 10 de outubro, após julgamento do Tribunal Superior do Trabalho. Os bancários também paralisaram suas atividades por melhor reajuste salarial, por 23 dias, até o acordo entre o Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos no dia 11 de outubro.
A greve dos professores do Estado e do Município do Rio de Janeiro dura mais de dois meses. Iniciou-se em 08 de agosto, motivada por reivindicações em reajuste salarial e plano de carreira. Fazem parte da rotina as manifestações de protesto sob vigilância policial. No último dia 15, Dia do Professor, a passeata dos professores foi ordeira até o final, por volta das 20 horas. Em seguida, o Black Bloc revelou sua presença e executou um quebra-quebra.
A greve dos professores abriu espaço para o chamado Black Bloc ("bloco de pessoas de preto"). Apesar do nome, o Black Bloc não é um grupo social organizado, mas um tipo de manifestação de rua. Indivíduos mascarados de preto atuam em bloco na prática do vandalismo contra propriedades públicas e privadas. É uma tática de luta urbana, nascida há mais de 30 anos na Europa. Vê-se que o Brasil, hoje, é um solo fértil para o Black Bloc prosperar.
Ninguém discorda que a greve é um direito democrático dos trabalhadores. Porém, a greve é um instrumento de defesa conquistado pelos trabalhadores no tempo das lutas de classes, quando patrões e empregados se tratavam como inimigos. Greve não significa parceria, mas confronto. Greve causa transtornos e prejuízos. A greve dos professores afeta a vida dos professores e estudantes, desgasta as autoridades públicas e propicia a desordem civil.
Hoje a greve não é uma forma de luta de proletários, que trocaram a vida no campo pela vida na periferia das cidades, que se habilitaram a ganhar o pão de cada dia nas empresas e precisam enfrentar a ganância dos burgueses e a violência da polícia para não passar fome. Agora, a realidade é outra. Governantes, empresários e trabalhadores sabem que todos têm que produzir, auferir renda e consumir, visando manter a economia longe das crises.
As manifestações populares, que ocorrem mundo afora, dirigem-se aos governantes, empresários e cidadãos em geral. Elas protestam contra políticas públicas e corporativas, contra discriminações sociais e econômicas. Basicamente, reivindicam melhores condições de educação, saúde, segurança, transporte, trabalho, renda, moradia, cultura e lazer. Todos estes itens requerem, obrigatoriamente, ações (isoladas e conjuntas) dos governantes, empresários e cidadãos.
Os governantes e empresários precisam observar as manifestações populares para identificar tendências, prever riscos e oportunidades, formular programas de trabalho capazes de colocar seus interesses e suas organizações em posição favorável diante da realidade. Não é à toa que muitas empresas modernas e bem-sucedidas investem forte nos seus funcionários, em vários quesitos, como atualização, remuneração, descontração, respeito e qualidade de vida.
Estudos sobre "qualidade do ambiente de trabalho", "satisfação e comprometimento no trabalho", "satisfação e produtividade no trabalho" são feitos rotineiramente por profissionais especializados, em órgãos públicos e empresas privadas. Não faz mais sentido pensar que greves (como estas nos Correios, bancos e governos do Rio de Janeiro) são coisas normais. Têm toda razão, aqueles que já decidiram que as greves são coisas do passado.

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