Especismo

Reginaldo Villazón
De repente, a manifestação popular ganha destaque nos noticiários, envolve autoridades, prende a atenção nacional e repercute fora do país. Na madrugada de sexta-feira, 18 de outubro, na cidade de São Roque (SP), mais de 100 pessoas invadiram o Instituto Royal para resgatar animais usados em testes de produtos farmacêuticos. Os invasores, ativistas em defesa dos direitos dos animais, levaram 178 cães da raça Beagle e 7 coelhos.


O movimento nada teve de surpreendente. Em 22 de setembro, os ativistas realizaram um ato de protesto na cidade, contra as atividades do Instituto. Em 12 de outubro, eles se acorrentaram em frente ao Instituto. Em 17 de outubro, uma reunião marcada entre os ativistas, funcionários da prefeitura e representantes do Instituto foi cancelada pela instituição. Por fim, nas primeiras horas do dia 18, a invasão aconteceu.
A ação teve contribuição decisiva do movimento Black Bloc, os mascarados de preto que fazem quebra-quebra. A Polícia Militar agiu com bom-senso. Manteve-se presente, acompanhando tudo, mas evitou o confronto pessoal com suas más conseqüências. No dia seguinte (19), um protesto organizado em redes sociais reuniu cerca de 700 pessoas na rodovia de acesso ao Instituto. Então, houve confronto entre mascarados e Polícia Militar.
A Polícia Civil abriu dois inquéritos. Um para apurar os delitos praticados pelos invasores (ativistas e mascarados). Outro para apurar os maus-tratos praticados contra os animais no Instituto, denunciados pelos ativistas. Eles são dois abacaxis para a Polícia Civil descascar. Como identificar os invasores e levantar a participação de cada um deles? Como obter provas dos maus-tratos sem os animais no local, fazendo parte da rotina do Instituto?
Apesar da denúncia de maus-tratos no Ministério Público, desde 2012, o Ministro da Ciência e Tecnologia condenou a invasão e afirmou que o Instituto Royal cumpre a legislação brasileira sem irregularidade. Mas ele não disse que há países que se preocupam mais com os animais, pois estimulam a criação de métodos de pesquisa que dispensam o uso de animais e proíbem a aplicação de métodos desnecessários em animais.
A questão do uso dos animais em pesquisa é importante. No cerne dela está a discriminação, historicamente presente na alma humana. Mulheres, indígenas, negros e chineses já foram discriminados como seres inferiores. A moda hoje é condenar a discriminação, mas o ser humano ainda utiliza a nacionalidade, o grupo étnico, o partido político, a categoria profissional, a religião, o time esportivo para discriminar, muitas vezes com violência.
A discriminação humana contra os animais se chama Especismo. É a atribuição de valores diferentes, conforme a espécie dos seres. Os especistas dizem que os humanos têm mais valor que os animais. Segundo eles, os animais têm sentimentos e sensações, mas de modo diferente e inferior aos humanos. E mais, os humanos têm moral; os animais, não. Isto faz com que os humanos tenham direitos acima dos animais.
Os especistas menos rigorosos concordam que os animais sentem prazer, dor, confiança, medo, alegria e tristeza. Aceitam que os animais têm direito à vida, ao respeito e à proteção. No entanto, insistem que os humanos precisam usar os animais nas pesquisas para obter vacinas, remédios e técnicas que vão beneficiar tanto os humanos como os animais.
De fato, não há como contradizê-los. Mas os seres humanos só vão conquistar bem-estar, saúde e paz em plenitude quando conviverem em harmonia com o todo planetário. A sociedade humana tem que mudar conceitos e hábitos. Tem que realizar muito do que já é possível. Seja como for, a luta dos defensores dos animais é necessária e bem-vinda.

Comentários