A saúde está doente!

*Silvio Coutinho e *Neide Yokoyama
O título deste texto retrata uma triste, mas verdadeira, realidade no Brasil: a falta de médicos tem nos deixado em estado febril.
Diferentemente do que o Conselho Regional de Medicina (CRM) defende, não faltam médicos apenas nos confins e sertões do Brasil. No Hospital do Câncer de Barretos, deixam de ser atendidos cerca de 450 pacientes/dia devido à falta de profissionais especializados. Só de oncologistas há um déficit de 70 médicos.
Altos salários não são atrativos para médicos exercerem a medicina, em alguns lugares. Um exemplo é o município de Porto Estrela (MT), onde a prefeitura aumentou o salário dos médicos para R$ 25 mil, por uma jornada de 40 horas. Todavia, desde dezembro de 2012, não há nenhum médico para atender a população local.
Do mesmo modo, unidades de atendimento bem equipadas também não são garantia de contratação e manutenção de médicos. Em Camargo (RS), duas unidades de saúde bem equipadas para o atendimento básico e um salário de R$16 mil mensais não são motivos suficientes para manter os médicos trabalhando na cidade de 2 mil habitantes. Para resolver o problema, a prefeitura espera a aprovação do projeto de lei no qual o morador que for aprovado em vestibular de medicina, em instituição privada, terá seu curso totalmente pago pela prefeitura, não importando o valor da mensalidade, desde que resida há mais de cinco anos no município e comprometa-se a nele trabalhar de cinco a seis anos, depois de formado.
Pode-se ver que a falta de médico é uma infecção generalizada em todas as regiões do Brasil. A soma de alguns fatores explica o problema: segundo a Organização Mundial de Saúde, existem no Brasil 1,8 médicos para cada 1000 habitantes, número abaixo de países como Argentina (3,2), Portugal e Espanha (4) e Cuba (6), para o mesmo número de habitantes; além disso, a distribuição de médicos é desproporcional: no Distrito Federal há 4,09 médicos e no Maranhão há 0,71 médicos, para cada grupo de 1000 pessoas. A alta demanda somada à baixa oferta de médicos cria um desequilíbrio encarecendo potencialmente os serviços médicos, pois os médicos concentram-se mais nas capitais e cidades maiores. Seria leviano julgar o médico como vilão, pois, como todo profissional, sua sobrevivência depende de seu trabalho e não tão somente de sua vocação e, assim sendo, ele tenderá a buscar trabalho em um lugar onde ofereça maior custo/beneficio, já que existe essa possibilidade de escolha.
Para tentar amenizar o problema, o governo criou mecanismos para atrair médicos de países com taxas de médico/habitantes maiores que o Brasil, como são os casos de Cuba, Espanha e Portugal, para trabalharem em regiões carentes de grandes cidades e em áreas que não são atrativas para quem exerce a medicina, como a Selva Amazônica ou o sertão Nordestino. Opondo-se à medida, os Conselhos Regional e Federal de Medicina alegam que os médicos cubanos têm baixo nível de aprovação no exame de revalidação de diploma aplicado no Brasil.
De fato, o método de medicina cubano é diferente do brasileiro, pois lá predomina a medicina preventiva, ideal para áreas pobres e de risco como as comunidades ribeirinhas, sertões e bolsões de pobreza das grandes cidades, nas quais as condições de trabalho não são ideais. Esse tipo de medicina fez Cuba alcançar uma taxa de mortalidade infantil de 5,8, por 1000 nascimentos, enquanto no Brasil a taxa é de 15,6 por 1000, resultado que mostra que a medicina cubana não deve ser tão ruim.
Outra oposição vem sendo feita por grupos que acreditam que o governo esteja trazendo missionários cubanos que irão pregar o comunismo, com a desculpa de exercer a medicina em regiões carentes. Medicina não é política! Para um ribeirinho, que precisa andar de barco centenas de quilômetros para chegar até o posto médico mais próximo, será que importa a nacionalidade do médico, desde que este esteja disposto a atendê-lo na cidade onde ele reside? Nesse debate, tem-se esquecido a questão humana.
Como medida emergencial, a estratégia do governo é válida. Mas, a médio e longo prazo é necessário investir-se na formação de médicos, a fim de se reduzir o déficit que existe para equilibrar a função, e, complementarmente, na infraestrutura para o diagnóstico e tratamento do doente.
*Silvio Coutinho
: Acadêmico do Curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas. E-mail: silvinho.coutinho@hotmail.com *Neide Yokoyama: Administradora e Professora do Curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas. E-mail: yoko@cptl.ufms.br

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