Lixo zero

Reginaldo Villazón

O pão nosso de cada dia – mais abundante, variado e acessível – faz crescer o deplorável desperdício, que seria capaz de solucionar a fome no mundo. A sociedade, acostumada a descartar, escolhe os alimentos de aparência perfeita e despreza os que apresentam defeitos comuns, especialmente legumes, hortaliças e frutas. Estimativas apontam que cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo vira lixo.
Alimentos vão para o lixo, não só pelas mãos das donas de casa, quando elas separam produtos na banca da feira e quando rejeitam partes nutritivas deles por falta de conhecimento e costume. Os desperdícios acontecem na colheita, no acondicionamento, no transporte, nas indústrias de alimentos, nos refeitórios de instituições, nos restaurantes comerciais. O volume se agrava nas lixeiras com a soma das embalagens descartáveis.
Mas, aos poucos, a sociedade vai entendendo que não existe lixo. Tudo o que teve serventia deve ter destino, tratamento e reciclagem de modo a eliminar o desperdício, evitar a poluição e sustentar a vida no planeta. Materiais como papel, papelão, plástico e vidro são bons exemplos de como, o que era lixo, pode gerar empreendimentos estruturados em cadeias produtivas importantes na geração de produtos, emprego e renda.
Mais recentemente, tomou vulto o chamado "lixo de alta tecnologia". São aparelhos inteiros, componentes complexos e elementares, resultados do descarte de televisores, computadores, telefones celulares e outros produtos eletrônicos. O volume desse lixo, que contém materiais de alta toxidade, aumenta rapidamente no mundo. A reciclagem é vantajosa do ponto de vista econômico, mas ainda é incipiente.
Assim, tudo se complica quando se transforma descarte em lixo. Produtos e resíduos úteis viram lixo sem valor. O lixo se acumula em milhões de toneladas e, de forma pouco responsável, é jogado em lixões a céu aberto, onde é disputado por humanos e animais, propaga doenças, polui o ar com gases e contamina o solo com substâncias nocivas. Muitas prefeituras brasileiras já não têm onde acumular tanto lixo.
A lei federal 12.305, de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, altera a maneira como as prefeituras tratam o lixo, desde a coleta seletiva até a reciclagem e a destinação dos materiais não reutilizáveis. A meta de acabar com os lixões em quatro anos (até 2014) e criar aterros sanitários (fechados, sem vazamento), claro que não será cumprida. Mas é evidente que as questões relativas ao lixo terão que ser enfrentadas.
No Brasil, cresce o número de cidades que fazem coleta seletiva do lixo com apoio de cooperativas de reciclagem. Há boas experiências de coleta em contêineres mantidos sob calçadas e destinação do lixo a reciclagem, compostagem de adubo orgânico e produção de gás. Na Europa, a seleção do lixo é feita em até sete diferentes lixeiras. O lixo comum é recolhido pelas prefeituras, os recicláveis diretamente pelas indústrias.
A utilização dos bens naturais, o descarte de produtos e o tratamento de resíduos, na prática, são desafios locais. Em outras palavras, são problemas resolvidos na comunidade. Eles fazem referência ao grau de civilidade da população, ao cuidado dos governantes municipais com a qualidade de vida das pessoas. Nesta perspectiva, no futuro próximo, haverá comunidades mais desenvolvidas, e outras menos.

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