Insegurança

Reginaldo Villazón
O medo é uma emoção básica do ser vivo. Experiências científicas atestam que as plantas, quando ameaçadas, sentem medo. Os animais acuados revelam medo claramente. No ser humano, o medo é uma emoção complexa. Pode acometer pessoas por causas passadas e presentes, pode evoluir da ansiedade ao pavor. Individual e coletivamente, o medo hoje está presente nas sociedades de forma relevante.
Sem prejuízos, o medo de coisas naturais – como de animais perigosos, materiais cortantes, produtos explosivos, lugares elevados – atua de modo positivo no trabalho individual de desenvolver habilidades para superar os desafios da vida. O medo dos perigos permite à pessoa avaliar situações de risco e planejar ações seguras de tal forma que o medo inicial se torne uma simples questão de justa preocupação.
No caso da insegurança social, vem acontecendo exatamente o contrário. No curso do tempo, as experiências nada têm contribuído para que o medo ajude a racionalizar ações para evitar os infortúnios e as tragédias nas sociedades mundo afora. O medo gera um estado constante de apreensão, altera comportamentos usuais, dificulta relacionamentos humanos, restringe liberdades, afeta o desenvolvimento geral.
O dia 11 de setembro de 2001 é um marco da insegurança social. Nos Estados Unidos, quatro aviões de passageiros foram seqüestrados por terroristas e destruídos em ataques suicidas. No coração de Nova Iorque, duas torres de escritórios empresariais atingidas desabaram. Os danos materiais somaram bilhões de dólares. Quase três mil pessoas perderam a vida. O país entrou em pânico e numa luta armada no Afeganistão.
Os ataques variados – feitos por fanáticos, maníacos e marginais – são sintomas de sociedades doentes. Os governantes não cumprem seus deveres nos seus países e nas relações internacionais. E não vão resolver os maus efeitos com leis, tratados, tropas de choque e forças bélicas. Igualmente, as sociedades – apáticas com os problemas humanos – não vão eliminar a insegurança e o medo com muros, grades, câmaras e seguros.
Assim, esse medo resultante da insegurança social causa estresse, dificulta o pensamento racional, impede reações positivas. E isso não é tudo. Os estudiosos da sociedade contemporânea apontam para a valorização da individualidade. As pessoas afrouxam seus compromissos com os grupos de familiares, amigos, religiosos e outros em busca da liberdade, da independência e da autodeterminação.
Sem perceber, as pessoas entram no seguinte conflito: "Mais liberdade, menos segurança. Mais segurança, menos liberdade". É simples de entender. Se mais livre para ser ele mesmo, desligado dos laços familiares e afetivos, o indivíduo perde o apoio dos entes familiares e afetivos. Sem dúvida, sente mais o medo de perder o emprego, de ficar doente e de morrer, pois está mais individualizado, mais no isolamento.
A sociedade da insegurança e do medo é esta que habita as casas, anda pelas ruas, acredita no voto como exercício democrático suficiente, aparece nos noticiários policiais, prioriza as liberdades individuais. Porém, tudo é possível e tudo terá solução. A participação política não-partidária é uma necessidade urgente. Assim como a reflexão sobre como agir com sabedoria na condução da vida privada e dos relacionamentos sociais.

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