O último apagão

Reginaldo Villazón
Os manuais conceituam Autoridade como um cargo de governo, um posto de chefia, uma posição que dá ao seu ocupante o poder de decidir, mandar e ser obedecido. É um conceito importante porque está ligado à hierarquia, ou seja, à organização das pessoas e atividades nas famílias, entidades, empresas e instituições públicas. Viver sem hierarquia, com base na responsabilidade de cada um, é só um sonho.
Pessoas podem possuir Autoridade de forma incontestável. Por exemplo, os prefeitos e vereadores que se elegeram democraticamente nas últimas eleições possuem a Autoridade legítima dos seus cargos. Entretanto, o exercício da Autoridade, ou seja, o poder de decidir, mandar e ser obedecido é algo muito complicado. Há situações em que a posse da Autoridade permanece intacta, mas o seu exercício se deteriora.
É fácil compreender que, em todas as áreas da atividade humana, o exercício da Autoridade depende de fatores humanos e materiais para fluir com êxito. Quem está investido de Autoridade precisa agir com credibilidade, liderança, criatividade e outros atributos. Precisa também contar com colaboradores qualificados e dinheiro suficiente para usar em despesas e investimentos.
Sem exagero, pode-se afirmar que o público torce para que os detentores de Autoridade a exerçam com excelência. Ninguém, em sã consciência, torce para que os chefes de família não consigam conduzir bem suas famílias, os professores não possam educar corretamente a juventude, os juízes de direito não tenham condição elaborar sentenças justas. Gestões fracas produzem colheitas minguadas.
Em especial, no âmbito da política e da administração pública, nosso país passa por dias difíceis. No nível federal, as autoridades não dão conta de focar um desafio de cada vez e aplicar medidas eficazes. Os problemas estouram, ora na aviação civil, ora nos portos marítimos, ora nas ferrovias, ora na transmissão de energia elétrica, ora nas rodovias. As ações do governo resultam inócuas e geram prejuízos.
Nas cidades, o povo desfilou em manifestações por melhorias. Mostrou que nelas as autoridades locais não conseguem solucionar problemas que afligem seus moradores. Dificuldades na mobilidade urbana, na segurança pública, na educação e na saúde não são enfrentadas, não por falta de dinheiro, mas pela incapacidade dos políticos. Eles preferem usar suas habilidades para disputas partidárias.
A situação dos políticos brasileiros é sentida na pele pela presidente Dilma Rousseff. Ela não sofreu ataque contra a sua autoridade. Mas sofreu duas vaias. A primeira, no dia 15 de junho, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília DF, na abertura da Copa das Confederações. A segunda, em 10 de julho, na Marcha dos Prefeitos, em Brasília DF. Sua popularidade, segundo a Datafolha, caiu 35% de março a junho (65% para 30%).
As vaias a políticos têm longa história no Brasil. Fernando Collor de Mello as enfrentou durante sua presidência (1990 a 1992). Paulo Salim Maluf nem podia inaugurar obras como governador de São Paulo (1979 a 1982). Eles não recuperaram o respeito da população porque não melhoraram suas atitudes. Pois este é o xis da questão. A mudança de atitudes é a solução para sanar o apagão político. Se não, será a renovação nas eleições.

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