Medicina de família

Reginaldo Villazón
Não foi necessário ao povo brasileiro, nas manifestações de rua, denunciar a precariedade do sistema de saúde nacional. Bastou exibir cartazes e bradar com veemência por melhorias, já que as falhas são vistas todos os dias nos noticiários. São consultas adiadas, pacientes em crise na fila de espera, cirurgias marcadas com prazo demorado, insuficiência de aparelhos e técnicos para diagnósticos importantes.
A resposta do governo federal foi evasiva: "vamos trazer médicos estrangeiros para trabalhar no SUS (Sistema Único de Saúde), nas regiões onde faltam médicos". Em resposta, grupos de médicos paralisaram seus trabalhos para postular por melhores condições de trabalho e remuneração. Mas os expoentes da classe médica trataram o assunto de forma banal, criticando vinda de médicos estrangeiros.
Como é de praxe, veio à tona a discussão sobre o sistema de saúde de Cuba. Os críticos ferozes deixaram de lado os problemas da saúde no Brasil para lançar veneno contra Cuba, suas escolas de medicina, seus médicos e seu sistema de saúde, em clara oposição aos defensores ideológicos de Fidel Castro. Portanto, não houve abordagem produtiva. Mas, de real, o que acontece em Cuba?
Profissionais de saúde de países ricos visitaram Cuba para colher experiências. É bom fazer uma comparação. Os Estados Unidos da América (EUA) são o país mais rico do planeta; Cuba é um dos mais pobres do Ocidente. Os EUA aplicam cerca de 14% do PIB em saúde; Cuba aplica cerca de 7%. Os EUA gastam cerca de 4.500 dólares por pessoa-ano em saúde; Cuba gasta cerca de 200 dólares.
Com tantas vantagens em seu favor, porque os especialistas em saúde dos EUA foram a Cuba estudar o sistema de saúde? Por que foram aprender, em vez de ensinar? A resposta é simples. Eles sabiam que Cuba não tem os melhores médicos nem a melhor medicina do mundo. Porém, sabiam de um fato essencial: Cuba tem uma medicina de alta eficiência em resultado e custo.
A medicina de família é praticada nos EUA e Cuba. Só que, em Cuba, muito mais. É a medicina que envolve pessoas, famílias e comunidades. Valoriza boas práticas de vida e tratamentos de baixo custo. A prevenção é priorizada. A relação entre médicos e pacientes é afetuosa. Além disso, os médicos cubanos são mais preparados que os norte-americanos para praticar medicina complementar e alternativa.
O sistema é organizado numa estrutura ascendente. Um grande número de postos de clínica geral, onde os médicos atendem pacientes e de onde eles partem para visitas às famílias do bairro. Os postos resolvem 80% dos casos. Acima, posto de especialidades médicas (um para cada 30 a 40 postos de clínica geral). E um número menor de hospitais para atendimentos complexos.
Assim, o sistema de saúde cubano obtém índices de saúde pública próximos dos índices dos países desenvolvidos. Derruba a idéia de que a riqueza é uma condição para a melhoria da saúde. Mostra que a saúde não depende só de procedimentos médicos, mas de fatores como educação sanitária, habitação limpa, água pura, boa nutrição, afeto nos relacionamentos e coesão social.
No Brasil o governo tenta mostrar que promove a medicina de família. Mas a organização é fraca, os médicos não-preparados e o acesso difícil ao povo. Há quem diga que a medicina comercial capitalista repudia o sistema cubano. E que a elite política só se trata nas instituições excelentes, como os hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein. Melhor, o povo ficar alerta: a luta vai continuar.

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