Revoluções

Reginaldo Villazón
É oportuno aos brasileiros lembrar o Maio de 1968 francês. Naquela época, sob a presidência do general Charles De Gaulle, a França era uma sociedade tradicional e sentia ainda as dores da ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial. O governo determinava as regras ao povo, a disciplina escolar era rígida, as mulheres eram submissas, a convivência entre as classes e entre os grupos sociais era difícil.
Um movimento de protesto teve início quando estudantes da Universidade de Paris, no campus da pequena cidade de Nanterre, nos arredores de Paris, reivindicaram mudanças no ensino às autoridades universitárias. No dia 02 de maio, as autoridades fecharam as portas dos prédios universitários e ameaçaram expulsar os estudantes líderes. O movimento estudantil engrossou e caminhou rumo a Paris.
A onda de protestos sacudiu Paris. No dia 05, milhares de estudantes entraram em choque com a polícia na Universidade de Paris, no campus da Sorbonne. No dia 10, na Noite das Barricadas, um número maior de estudantes enfrentou a polícia nas ruas. No dia 13, os trabalhadores se uniram aos estudantes. Deflagraram greve geral e saíram juntos em passeata, exigindo reformas educacionais e trabalhistas. No dia 20, a mobilização atingiu o máximo. Milhões de pessoas saíram em passeata nas ruas de Paris.
O movimento, que começou como uma reivindicação estudantil, tornou-se uma revolução social. Os estudantes criaram frases, que foram exibidas em cartazes e repetidas em discursos. "É proibido proibir", "A anarquia sou eu", "Antes de escrever, aprenda a pensar", "O Estado é cada um de nós", "A imaginação toma o poder", "A mercadoria é o ópio do povo", "Abolição da sociedade de classes", "Milionários de todos os países, unam-se, o vento está mudando", "A política passa-se na rua".
O general De Gaulle, que havia se refugiado na Alemanha, com o fim dos protestos voltou à França e continuou na presidência. Mas, no ano seguinte, sua proposta de reformas posta em votação popular foi rejeitada pela maioria dos eleitores. Ele renunciou à presidência do país e se retirou da política. A França, em um mês, havia passado por uma revolução social de transformações profundas.
O Brasil teve o seu ano de 1968. As passeatas estudantis se repetiam para protestar contra a política educacional, contra a forte presença do capitalismo norte-americano no país e contra a ditadura militar. O governo reprimia, o movimento crescia. Em 26 de junho de 1968, na Passeata dos Cem Mil, estudantes, intelectuais, artistas e outras categorias lotaram as avenidas do Rio de Janeiro numa grande marcha pacífica contra a qual as forças militares nada puderam fazer.
Em 1983 e 1984, o movimento pelas Diretas Já realizou comícios e passeatas no país. Exigia o fim da ditadura militar via eleições votadas pelos eleitores. No ano seguinte, a ditadura acabou. Em 1992, os Caras-pintadas, estudantes com o rosto pintado de verde e amarelo, saíram às ruas contra medidas econômicas do governo e a corrupção, em favor da cassação do presidente Collor de Melo. Collor deixou o poder.
Agora, o povo saiu às ruas da cidade de São Paulo para protestar contra o preço das passagens de ônibus. O movimento se alastrou no país, alargou as reivindicações e quer mudanças políticas. Muito importante é que os jovens, que nunca fizeram isto, estão aprendendo a fazer. Eles ficarão fortes e ousados quando virem que as conquistas não são imediatas, mas que eles podem transformar o país.

Comentários