Thatcherismo

Reginaldo Villazón
No ano passado, a atriz norte-americana Meryl Streep ganhou o seu segundo Oscar de Melhor Atriz Principal, na cerimônia da Academia de Artes e Ciências do Cinema, em Hollywood, Los Angeles (Califórnia, EUA). O prêmio chamou a atenção para o filme "A Dama de Ferro", no qual a atriz interpreta a política britânica Margaret Thatcher, que comandou o Reino Unido por 11 anos.
Na última segunda-feira (08 de abril), a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher faleceu aos 87 anos, após um derrame cerebral, em Londres. Seus admiradores lamentaram. Mas houve gente que celebrou sua morte com alegria em passeatas, portando cartazes ofensivos e tomando champanhe. Isto mostra a intensidade do seu o governo, que acabou há 22 anos e ainda está vivo nas pessoas.

Margaret Thatcher nasceu numa cidadezinha inglesa, filha de um pequeno comerciante e político local. Foi criada segundo a Igreja Metodista. Na juventude, deixou a cidade para estudar em universidade. Graduou-se em Química e qualificou-se Advogada. Ingressou no Partido Conservador e fez carreira política. Foi membro do Parlamento, ministra da Educação e se tornou líder do partido.
Ela foi eleita três vezes Primeira-Ministra, o que lhe permitiu exercer o cargo de 1979 a 1990. Por agir de forma autoritária, ganhou o apelido de Dama de Ferro. Por acreditar na liberdade econômica como fórmula infalível para a prosperidade, fez o primeiro choque de neoliberalismo no mundo. Sob o lema "economia livre e estado forte", sua política econômica e social foi chamada Thatcherismo.
Assim, ela cortou investimentos públicos, reduziu gastos sociais do governo, privatizou empresas, lutou contra os sindicatos de trabalhadores, acabou com o salário mínimo, reduziu os impostos sobre renda e patrimônio, aumentou os impostos sobre consumo. A prosperidade seria alcançada com a economia grande e livre, o estado pequeno e forte. O individual teria supremacia sobre o coletivo.
Durante o seu governo, houve resultados desastrosos. A produção industrial despencou, o desemprego atingiu três milhões de pessoas, os pobres pagaram impostos proporcionais maiores que os ricos, a desigualdade da distribuição de renda aumentou. A elite econômica chegou a possuir mais da metade da riqueza do país. O percentual de crianças pobres chegou a ser o maior da Europa.
Apesar dos problemas, a política de Thatcher reativou a economia do Reino Unido. Por este motivo – mais o fim do império comunista e o avanço da globalização –, o Thatcherismo se espalhou pelo mundo. O Brasil não ficou à parte. Esta política econômica e social, fundada na ideologia capitalista, alterna sucessos e insucessos. Nas crises, os governantes têm que usar dinheiro público para acudir setores privados.
Historicamente, as ideologias surgem para confronto com outras ideologias e servem para justificar a ascensão de novos grupos sociais ao poder. Mas elas envelhecem e perdem a utilidade. Como foi a ideologia comunista. O Thatcherismo é tal, qual um tubo de oxigênio puro, que anima a ideologia capitalista e a faz exibir, sem rodeios, tudo o que ela tem de excelente e de perverso.
Por exemplo, hoje, os jovens aprendem na escola, na televisão e na internet, que o capitalismo – com sua lógica de produção, consumo e lucro – agride as reservas naturais do planeta. Este motivo é suficiente para o mundo repensar o capitalismo. Pode-se dizer que Margaret Thatcher foi uma governante dominadora, teimosa e cruel. Mas é preciso extrair as lições da sua ousada política capitalista.

Comentários