Saídas

Reginaldo Villazón
Nos primeiros tempos da indústria de automóvel, era mais caro comprar um automóvel do que comprar uma casa. Com a expansão da produção industrial, a situação começou a se inverter. Profetas populares anunciaram: "Vai chegar o tempo em que será fácil comprar carro. Difícil será comprar combustível. E alimentos para matar a fome."
Parece que esse tempo chegou. As montadoras de automóveis registram recordes de produção e venda. Os consumidores – encorajados por propagandas e promoções – vão às compras. De outro lado, os governos se agitam para garantir o abastecimento de combustíveis e alimentos. E entidades internacionais apontam para a escassez de combustíveis e alimentos em escala global.
Na origem, os combustíveis vinham do petróleo encontrado no subsolo. Os alimentos vinham da agricultura realizada sobre o solo. Não eram concorrentes. Mas o petróleo é finito, caro e poluente. Por isto, os biocombustíveis – fabricados a partir de matérias-primas agrícolas – ganharam destaque. Agora, a produção de combustíveis e a produção de alimentos se dividem na disputa por terras agrícolas.
Dois países geram 90% da produção mundial de álcool combustível. O primeiro (EUA) utiliza o milho como matéria-prima. O segundo (Brasil), a cana-de-açúcar. Este fato atenua a escassez de combustíveis, mas contribui para a escassez de alimentos. Há outros fatos que prejudicam a estabilidade da oferta e dos preços dos alimentos: as mudanças climáticas, o aumento do consumo e a especulação financeira.
Para a FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação –, desenha-se uma crise mundial de alimentos. O clima não é mais confiável: enchentes, secas e ondas de calor afetam a agricultura. O consumo de alimentos aumenta forte nos países emergentes, como China, Índia e Brasil. Os especuladores financeiros apostam nos preços futuros de produtos agrícolas, forçando altas.
Hoje, 925 milhões de pessoas no mundo passam fome. Nas regiões pobres, um terço das mortes de crianças tem como causa a desnutrição. Há quebras de produção e os estoques de alimentos estão baixos. A alta nos preços dos alimentos é real. Se a crise progredir, comer dinheiro não vai ajudar a saciar a fome. É necessário, pois, agir com sabedoria e buscar soluções seguras e permanentes.
Causa espanto a quantidade de pessoas no mundo (e no Brasil) que já praticam formas inteligentes e civilizadas de segurança alimentar, garantindo produtos saudáveis para suas famílias e comunidades. Há livros, congressos, feiras, cursos e magníficos exemplos de como produzir alimentos nos mais variados espaços urbanos. Em chácaras, quintais, muros, paredes, telhados, casas, apartamentos.
Há técnicos especializados, produtores profissionais, praticantes e consumidores que aprenderam a produzir com qualidade, alimentar-se melhor, evitar desperdícios e preservar o meio ambiente. A valorizar detalhes, como a aplicação de insumos naturais, o preparo integral dos alimentos, o aproveitamento dos resíduos orgânicos.
A produção local de alimentos, em espaços urbanos e terras periféricas às cidades, começa sempre por um processo de educação que envolve vários comportamentos e objetivos. Por isto, os resultados são surpreendentes. Em alguns casos, age com a força de um programa de desenvolvimento sócio-econômico de grande impacto. É um despertar de consciências e a soma de muitas boas ações individuais.

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