Os custos financeiros do alcoolismo

Por Paulo Vinícius Soares e Pedro Fernandes Porto Neto

"Gosto de sair a noite de tomar um birinight / Jurubeba, tubaína, Johnny Walker, Black White / Me afogo na cangibrina caio no tatibitati / Tomo cinco ou seis salinas feito fosse chocolate / Engulo até gasolina, mas detesto coca light" [...].
Música: Eu detesto coca light. Zeca Baleiro

O alcoolismo, além de um problema pessoal, é também um problema social, empresarial e humano. No mundo, os gastos referentes à doença só perdem para o tabagismo e significam mais que o total dos custos decorrentes do uso de todas as outras drogas juntas.
O alcoolismo é uma doença crônica, caracterizada pelo consumo compulsivo de álcool, na qual o usuário se torna cada vez mais tolerante a intoxicação e que apresenta sintomas e sinais de abstinência quando o mesmo é retirado, sinais típicos de usuários de drogas quando separados do vício.
Geralmente, as causas da doença são: o ambiente social e a cultura, a predisposição genética e a saúde psicológica. Mas, sua forma de agir no metabolismo ainda é incerta. Para a maioria das pessoas, o consumo de álcool gera pouco ou nenhum risco de se tornar doença, porém existe uma semente plantada e que pode germinar a qualquer momento, pois há a influência constante no corpo físico, enganando o psicológico, isto porque além da legalidade adulta e falta de fiscalização para a menor idade, existe um pressuposto social de que a maioria já utilizou ou utilizará. Para algumas faixas etárias, como a adolescência, é considerado parte de um status e inclusão de grupo.
As consequências do vício podem ser muitas, a começar pelos danos ao próprio corpo, como câncer na cavidade oral, esôfago, faringe, fígado e/ou vesícula biliar; hepatite, cirrose, gastrite, úlcera, danos cerebrais, desnutrição, problemas cardíacos, problemas de pressão arterial e transtornos psicológicos até a morte. Durante a gestação, causa má formação fetal. Fora isso há o problema familiar, social e profissional que vão além das notícias de acidentes de trânsitos, degradando aos poucos a sociedade.
O tratamento necessário depende muito do quadro do paciente, porém o mais comum é a desintoxicação e posterior reabilitação, idêntico aos fatores necessários para recolocação na sociedade de usuários das demais drogas ilegais. Vale lembrar que não existe cura e normalmente são tratamentos longos em que podem acontecer recaídas. O apoio da família e dos amigos é essencial, mas como, em alguns casos, se refugiar do lobo em sua toca?
O ponto principal deste artigo, contudo, é o custo financeiro do alcoolismo, que muitos parecem não enxergar ou fingem ser assim e a sua divulgação é restrita. Além do obvio drama familiar, dados especulativos estimam que o Brasil gaste em torno de R$ 100 bilhões de reais ao ano para o tratamento e outros impactos decorrentes da doença, custo decorrente de fatores como acidentes de trânsito, criminalidade, violência doméstica, absenteísmo, desemprego e outros, que muitas vezes não são apontados pela prestação de conta do orçamento, sendo mascarados por outras contas, quando na verdade o custo foi gerado pela utilização da droga.
Para termos uma idéia dessa cifra, ela é maior que o orçamento do Ministério da Educação, que em 2012 foi de R$ 82 bilhões de reais. Não nos restam dúvidas de que este montante sendo revertido para as áreas sociais certamente seria extraordinário. Analisar esta doença critica do ponto de vista de ônus financeiro e os efeitos econômicos que ela acarreta parece egoísmo, mas é necessário para nos fazer enxergar a urgência da questão.
E é por tudo isso que o Governo deve tomar, em caráter de urgência, medidas providenciais (como fez com o tabaco) aumentando, por exemplo, os impostos para tornar os produtos alcoólicos mais dispendiosos, expondo veementemente seus males para os consumidores, visando diminuir seu consumo, em medidas provavelmente impopulares, porém necessárias, pois atualmente trata-se de um tema de extrema importância para a saúde pública, e que tende a piorar como demonstram os números de aumento do consumo, afinal o papel do estado é proteger e cuidar da nação.
Mais importante do que simplesmente combater o uso, é tratar da prevenção ao alcoolismo e ao consumo excessivo de álcool, principalmente entre os jovens, onde tudo se inicia e a semente é plantada. Seminários didáticos e interativos onde deve ser exposto os danos causados por essa substância, promovendo ainda atividades recreativas e esportivas no tempo livre, pois são meios de encaminhar as próximas gerações para uma vida mais saudável.
Para que tudo isso ocorra e estes números retrocedam, deve-se ter a compreensão e o apoio mínimo da população, para que a discussão sobre os males surja dentro dos lares, criando metas para uma sociedade livre dos prejuízos do álcool e que os objetivos de melhorias sejam alcançados. Quem sabe assim podemos nos preocupar com outros assuntos que podem alavancar nossa economia, oferecendo melhor qualidade de vida para nossa nação.Paulo Vinícius Soares e Pedro Fernandes Porto Neto: Acadêmicos de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas (MS).

Comentários