Irresistível

Reginaldo Villazón
De acordo com a ciência, os seres humanos têm cinco sentidos fundamentais, através dos quais ele percebe as coisas ao seu redor, se relaciona com o meio ambiente e se integra ao mundo em que vive. Imagine-se alguém diante de um prato fundo de sopa, depois de um longo dia de trabalho. Seu corpo inteiro se alerta para apreciar as cores, os odores, os sabores, as texturas e os ruídos daquela delícia revigorante.
A sopa é muito antiga e hoje está presente em todos os países e regiões do planeta. Ela alimenta ricos e pobres nos tempos de paz e de guerra, de colheitas fartas ou não. Sempre apetitosa e nutritiva, ela é preparada de acordo com receitas tradicionais. Ou com os requintes da alta culinária. Ou, ainda, de forma criativa, com os ingredientes que se têm no momento. E a sopa tem muitas histórias boas.
Em Portugal, conta-se que um frade em peregrinação, sentindo a fome apertar, chegou a uma casa e pediu aos moradores permissão para preparar uma sopa de pedra. Sob anuência e curiosidade de todos, ele foi à cozinha, pegou uma panela grande e a pôs sobre a chapa quente do fogão. Colocou dentro dela uma pedra que trazia na sacola e juntou água.
Aos poucos, ele sugeriu que arrumassem algumas coisas para melhorar a consistência e o sabor da sopa. Assim, adicionou legumes, carnes e temperos. Findo o preparo, todos juntos tomaram a excelente sopa. Então, o frade pegou a pedra de volta, lavou-a e guardou-a de volta na sacola. Agradeceu, despediu-se e foi embora. De tão boa, hoje a sopa de pedra é uma tradição portuguesa.
No Paraguai, a história é de outra sopa. Em 1840, o presidente era Carlos Antonio López, que gostava de uma sopa à base de farinha grossa de milho, bastante consumida no país. Uma vez, ao preparar o jantar, a cozinheira errou a mão e colocou farinha de milho a mais na panela de cozimento da sopa.
Ao servir a refeição, ela levou à mesa o resultado da sopa: uma deliciosa torta salgada de milho. O presidente gostou e passou a pedi-la com freqüência. Anos depois, seu filho Francisco Solano López foi presidente e promoveu a Guerra do Paraguai. A principal ração dos soldados foi a sopa paraguaia, fácil de transportar e substanciosa. Virou moda nacional e ganhou fama internacional.
Nos Estados Unidos, em 1962, a indústria Campbell (fundada em 1869) produzia 32 tipos de sopa em lata e era campeã de vendas. As latas de sopa Campbell eram vistas por toda parte. O jovem artista Andy Warhol resolveu pintar cada lata de sopa num quadro de 50 por 40 centímetros, com a imagem exata de cada rótulo. Os 32 quadros, muito parecidos, foram expostos juntos no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Andy Warhol virou celebridade como artista pop.
No Brasil se consome sopa no ano todo. No inverno, o consumo triplica. Sob os nomes sopa, creme, canja, caldo e escaldado, ela é oferecida em reuniões domésticas, em bares populares, em restaurantes finos. Acompanhada de torradas e de vinho em doses moderadas, ela se completa com o calor das boas amizades. Primavera, verão, outono e inverno são boas estações para se tomar sopa juntos. Sopa não se harmoniza com a solidão.

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