Revolução mexicana

Reginaldo Villazón
Depois que o México consumou sua independência do domínio espanhol, em 1821, não se organizou nem prosperou como uma nação livre. Continuou governado por chefes políticos autoritários, ligados às forças armadas e à elite ruralista. O povo – analfabeto e pobre –, via suas melhores terras serem invadidas pelos grandes fazendeiros. Sob ameaças e sem defesas, o povo sofria privações.
O país iniciou sua modernização com o general Porfírio Díaz. Ele exerceu a presidência da república em três períodos – entre 1876 e 1911 –, totalizando 30 anos de governo. Agiu com demagogia e violência. Facilitou a instalação de empresas estrangeiras para erguer a economia: extração de minerais, extração de petróleo, ferrovias, rodovias, portos, indústrias, bancos. Favoreceu o crescimento dos latifúndios para aumentar a produção rural. Houve progresso, mas miséria para o povo.
Neste ambiente – governo autoritário, elite concentradora de renda e trabalhadores marginalizados –, aconteceu a Revolução Mexicana, a partir de 1910. Foi um movimento armado popular, de grande repercussão, contra os latifúndios e o imperialismo econômico estrangeiro. Historiadores afirmam, com boa dose de razão, que esta revolução não teve bases ideológicas, que o povo humilde e seus líderes pegaram em armas contra os infortúnios gerados por um governo injusto.
Entre os revolucionários campesinos do sul, destacou-se o líder Emiliano Zapata (Emiliano Zapata Salazar), nascido num lugarejo do pequeno Estado de Morelos. No norte, destacou-se Pancho Villa (José Doroteo Arango), nascido numa pequena cidade do vasto Estado de Durango. Ambos comandaram forças civis armadas em combates contra tropas militares do governo mexicano.
Emiliano Zapata era mestiço (espanhol com índio) e analfabeto. Não era pobre nem rico. Era proprietário, com a família, de um rancho que garantia o sustento de todos. Ele gostava de freqüentar festas populares, vestido no elegante traje mexicano. Porém, até a sua morte, manteve inabalável seu afeto pelas pessoas simples.
Pancho Villa era mestiço, nasceu trabalhador rural e alfabetizou-se adulto. Aos 16 anos, matou um homem que estuprou sua irmã mais nova. Por isto, partiu para outro Estado e adotou o nome Francisco Villa (Francisco, apelido "Pancho"). Teve vida agitada. Dedicou-se a mineração, roubo de gado e assalto a bancos. De bandido, virou revolucionário. Carismático e astuto, formou um grande exército popular e dominou o norte do país.
Entre lutas armadas, disputas pelo poder e crimes políticos, a presidência do país mudou de mãos várias vezes. Em 1911, o general Porfírio Díaz renunciou e fugiu. Deste ano até 1924, passaram pela presidência: o político Francisco Madero, o general Victoriano Huerta, o político Venustiano Carranza e o militar-político Álvaro Oblegón.
Emiliano Zapata morreu em 1919. Pancho Villa em 1923. Foram fuzilados por tropas militares em emboscadas urdidas pelo governo. Suas forças civis se dispersaram e a revolução acabou. Sim, houve mudanças políticas, sociais e econômicas em benefício do povo. Mas elas se deram de modo lento, difícil e doloroso.
A Revolução Mexicana é bem documentada. É uma rica coleção de ensinamentos. Nela se vê como um povo mantido na ignorância é facilmente manipulado por políticos, militares e empresários ambiciosos. Nela se percebe como há, hoje, revoluções mexicanas acontecendo no mundo, em países onde o povo é iludido por dirigentes dominadores. Nela se entende a frase de Peter Drucker – "A educação faz com que as pessoas sejam fáceis de guiar, mas difíceis de arrastar; fáceis de governar, mas impossíveis de escravizar".

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