Modelo social

Reginaldo Villazón
A humanidade vive uma época de conflitos. O progresso melhora a informação, o conforto e a expectativa de vida. Mas a separação, a competição, a marginalização, as guerras e as tragédias previsíveis fazem parte da rotina. Tudo acontece rápido e se propaga no mundo globalizado. Cada nova geração recebe a ação de estímulos diferentes e desperta para uma realidade nova. Porém, muitas vezes, tem que seguir um programa de vida medíocre: estudar, arrumar emprego, trabalhar sob stress, proteger a família, aposentar e morrer.
Pensadores afirmam que os políticos, empresários, religiosos e cientistas não vão salvar a humanidade. Então, pergunta-se: a solução não seria a adoção pelas comunidades de um modelo social capaz de harmonizar a convivência humana? Registros históricos informam que isto é possível. Um caso exemplar aconteceu em terras hoje brasileiras (Rio Grande do Sul), no período de 1682 a 1801.
Naquele tempo, o meridiano do Tratado de Tordesilhas (uma linha vertical traçada no mapa do mundo) passava pelo território brasileiro. As terras do lado direito (Leste) eram colônias de Portugal. As do lado esquerdo (Oeste) eram colônias da Espanha. O Rio Grande do Sul ficava no lado espanhol. Lá os padres jesuítas espanhóis fundaram, a partir de 1682, sete povoados (missões) para abrigar, catequizar e civilizar os índios Guaranis.
Os Sete Povos das Missões, assim conhecidos, prosperaram de forma extraordinária. Chegaram a conter uma população superior a 30.000 índios. Seus bovinos e eqüinos se multiplicaram aos milhares nos campos naturais. O sistema socioeconômico era socialista, mas preservava interesses individuais e familiares. Os índios trabalhavam seis dias por semana: dois para a coletividade e quatro para a família.
Os povoados eram planejados. Tinham uma praça grande com benfeitorias ao redor: igreja, escola, oficinas, casas, hospital, asilo, pomar, horta e outras. Os índios produziam implementos agrícolas, instrumentos musicais, utensílios de barro, tecidos e ferro fundido. Faziam observações meteorológicas, imprimiam livros e se dedicavam a artes: música, dança, teatro, poesia, pintura, escultura. Muitos dos seus instrumentos e objetos de arte foram exportados com sucesso para a Europa.
Os crimes eram raros. A punição mais dura e temida era a expulsão. A cadeia tinha porta com tramela que podia ser aberta e fechada por dentro e por fora. O índio que fazia coisa errada ouvia um sermão e era encaminhado à cadeia para ficar recluso. Após o tempo suficiente para um exame de consciência, ele abria a porta e saía livre.
Os Sete Povos das Missões foram alvos de ataques armados de colonos portugueses e espanhóis, interessados nos seus rebanhos e pastagens. Os bandeirantes também não deram trégua. O Tratado de Tordesilhas foi extinto, os padres jesuítas espanhóis e os índios guaranis foram expulsos, a região foi anexada às terras portuguesas em 1801.
Há farto material sobre o assunto. Seu estudo pode instruir como promover o desenvolvimento humano, com baixo custo e alta eficiência, não submetendo consciências e exaltando valores espirituais. Nós temos que fazer o nosso exame de consciência para admitir que aqueles padres – corajosos, inteligentes, talentosos e idealistas – foram seres humanos superiores que nos legaram um tesouro de inestimável valor.

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