Incertezas

Reginaldo Villazón
O desejo de ter o controle sobre os fatos da vida, de estar no comando do destino, de ser dono do próprio nariz é comum à maioria das pessoas. Como ideal de liberdade e responsabilidade, ele é reforçado pela teoria de que a vida é feita de escolhas, de que cada indivíduo constrói a sua vida com o efeito das suas ações.
Este desejo, presente no íntimo das pessoas, também existe de forma objetiva nas coletividades humanas, que utilizam a ciência, a política, o planejamento e a administração para concretizar suas aspirações. Quando se fala em desenvolvimento, refere-se de imediato à organização e ao controle de tudo o que diz respeito ao bem-estar social.
Porém, os cientistas mostram que – na natureza, na vida individual e na vida coletiva – há muitos fatos que não podem ser previstos, organizados e controlados com rigor. Como os ventos, as chuvas e as temperaturas regionais, bem como os encontros e desencontros pessoais, os sucessos e insucessos familiares, as conquistas e frustrações sociais.
Além disso, os cientistas discutem se vale a pena insistir na busca de modelos de vida baseados em organização e controle. Se um homem, que gosta de jogar sinuca, adquirisse controle total do seu desempenho, nunca mais cometeria erros. Em todas as partidas, ele acertaria as suas tacadas, da primeira à última, sem dar chance de reação aos adversários. Sem incertezas, a sinuca deixaria de ser um jogo e perderia a graça.
Numa sociedade desenvolvida, bem organizada e sem incertezas, os cidadãos saberiam previamente o transcorrer das suas vidas até a velhice. Isto poderia ser bastante negativo, suficiente para provocar uma angústia existencial generalizada. Sem motivos para tentar inovações, as pessoas e o país se quedariam na estagnação.
Sem dúvida, há questões importantes que precisam ser trabalhadas à exaustão para que não ofereçam surpresas. Uma delas é a segurança. As estradas devem ser bem construídas, sinalizadas, conservadas e vigiadas. As indústrias e a construção civil devem respeitar normas rígidas de segurança. Outra questão importante é a saúde. Quanto mais a humanidade ganha controle sobre as doenças, melhor.
Mas, as incertezas também são valiosas para o progresso material e espiritual da humanidade. Elas abrem espaço para as pessoas desenvolverem suas potencialidades e realizarem incursões em possibilidades não exploradas antes. Diante das incertezas, há campo para experimentação e renovação.
A humanidade, hoje em adiantado processo de globalização, passa por crises próprias destes tempos e não tem soluções definitivas para solucionar os desafios. Como enfrentar a degradação ambiental, manter o crescimento econômico, reduzir o desemprego, preservar a renda dos aposentados, universalizar o sistema de saúde, expandir o consumo de bens e serviços essenciais?
A hora é das pessoas criativas, daquelas que não se contentam em fazer o que as outras pessoas fazem há tempo. A vez já é das pessoas que, entre as crises que assolam o mundo, enxergam a explosão de possibilidades que o mundo jamais teve. Ninguém vai bombar com idéias, discursos, ações e objetivos tradicionais.

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