Desafio social

Reginaldo Villazón
O governo português está preocupado com sua agricultura. A análise dos dados do último recenseamento agrícola (2009), em comparação com os dados de 10 anos antes, mostra que muita coisa mudou. A área total ocupada pela agricultura no país foi reduzida. As terras cultivadas com plantas para produção vegetal diminuíram e as terras ocupadas com pastagens permanentes aumentaram.
No aspecto social, constatou-se que a tradicional agricultura familiar portuguesa perdeu terreno para a agricultura empresarial. Muitos agricultores – especialmente os jovens – trocaram o campo pela cidade. Hoje, o típico agricultor português tem 63 anos de idade. Apenas 2,5% dos agricultores portugueses têm menos de 35 anos.
Este problema social não é só português. Na Europa, os agricultores mais velhos são cerca de 33% do total, enquanto os mais jovens não chegam a 10%. Na Inglaterra, onde 33% dos agricultores têm mais de 55 anos, o governo enfrenta uma avalanche de aposentadorias no setor rural e luta para não encolher o tamanho da sua agricultura. Lançou uma campanha de estímulo aos jovens para eles trabalharem na agricultura.
Os europeus têm bons motivos para se preocupar com isso. Primeiro, nas cidades há falta de novas vagas de trabalho e o desemprego é alto. Segundo, a agricultura pode abrir muitos postos de trabalho nas propriedades rurais e outros tantos nas empresas de alimentos das cidades. Terceiro, a procura mundial por produtos da agricultura sustentável favorece trabalhadores qualificados e bem remunerados.
No Brasil, este êxodo rural foi medido por estatística em Santa Catarina. Só na região Oeste do Estado, 70.000 jovens deixaram o campo na última década. Muitas propriedades não contam mais com a presença permanente de jovens e isto põe em risco a continuidade das atividades por sucessão familiar. No futuro, estes imóveis rurais poderão estar abandonados ou na posse de empresas, com perdas de jovens empreendedores e empregos.
A migração dos jovens agricultores acontece em várias regiões do país. No Estado de São Paulo, ela pode ser vista a olho nu, por simples observação. Os jovens são atraídos pela vida e pelas oportunidades das cidades. Muitos sentem vergonha das casas rurais antigas, mal construídas, mal acabadas e desconfortáveis onde residem. Muitos buscam as cidades para adquirir melhores níveis de ensino e qualidade profissional.
Mais do que desafios tecnológicos e econômicos – tais como: uso de técnicas agrícolas, adequação da produtividade, gerenciamento da produção, gestão financeira, acesso ao crédito e integração aos mercados –, a questão impõe um grande desafio social. Em primeiro plano, devem ser colocadas as aspirações individuais, as interações familiares, as relações sociais, a valorização do meio ambiente natural, o respeito à identidade sócio-cultural rural.
O problema, provavelmente, é mundial e cada país que superá-lo vai obter enormes benefícios em segurança alimentar, desenvolvimento rural e urbano. No Brasil, os órgãos oficiais de assistência e assessoria aos agricultores pouco empregam profissionais e métodos para enfrentar desafios sociais rurais. Parece que uma grande contribuição será dada pela agricultura orgânica, porque ela consegue unir pessoas do campo e das cidades nos ideais de produção sustentada, comércio justo e saúde.

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