Modernidade ou infortúnio

Por Marçal Rogério Rizzo
Com as ditas praticidades e comodidades dos tempos modernos, muitas coisas se perderam e nem nos demos conta. Temos observado matérias televisivas e jornalísticas que afirmam que a maioria da população está cada vez mais doente, estressada, sedentária e obesa. Hoje é comum tais matérias também se reportarem às nossas crianças.
Falando de nossas crianças, elas não praticam mais esportes. Como vivemos um período de crescimento econômico, quando passam a ter condições financeiras preferem ficar no facebook ou consumir os cheeseburgers do McDonald’s em shopping centers. Os brinquedos têm que ser eletrônicos. A maioria delas já abandou o carrinho, as bolinhas de gude, o pião e a pipa. Não pulam mais corda e nem amarelinha. Não andam de carrinho de rolimã. A rua não é mais lugar de brincar, nem de jogar bola e andar de bicicleta.
Pensando na rua, a configuração que as ruas brasileiras vêm ganhando nos últimos tempos tem-nos assustado. Hoje quem transita pelas ruas corre muitos riscos. As ruas de muitas cidades, independente do porte, não têm sido lugar para se andar a pé tranquilo como antes. Não há segurança. A violência transita livre e solta. No período noturno, as ruas são escuras e perigosas. Cadê as calçadas? Quando existem, muitas delas estão tomadas pelo lixo, restos de materiais de construção e árvores plantadas de forma errada. Com raríssimas exceções, pouco tem sido feito pra melhorar a acessibilidade. Dessa forma, como andar a pé pelas cidades?
Há, também, dificuldades para quem quer utilizar bicicletas. Não há bicicletários, ciclovias e respeito aos ciclistas. O que se tem visto é a inserção da bicicleta elétrica e ,assim, estimula-se o sedentarismo.
A solução impositiva é andar de carro, contudo nossos carros possuem vidros elétricos e câmbio automático; nossos televisores, controle remoto. Compramos legumes já descascados e picados. Os alimentos já estão pré-cozidos; basta abrir o saquinho e colocar no microondas. Cadê o esforço físico que havia na preparação dos alimentos?
Falando em alimentos, muitas de nossas crianças são estimuladas a comer gorduras e açúcares desde cedo. Muitas pensam que os legumes, verduras e carnes nasceram e cresceram nas gôndolas dos supermercados. Imaginam que estão ali porque foram produzidos ali, estando prontinhos para serem levados para nossas casas. Até mesmo os adultos não questionam: De onde vêm? Como foram produzidos? Quem é ou são os produtores do que comemos? Não há mais tempo pra isso. Perdemos os vínculos com os nossos alimentos e estamos desconectados da natureza. São poucos aqueles que ainda chupam uma fruta no pé.
Pensando no tempo, algo raro, já que estamos sempre correndo, optamos pelos fast-foods. Comemos algo com cheiro de gordura e consumimos alguma bebida repleta de açúcar de forma rápida, de pé, na beira de um balcão, enchendo de ketchup e maionese. Alimentamos-nos com pressa, sem perceber a quantidade e qualidade do que estamos comendo. Hoje temos dinheiro para comer mal e, assim, ficamos obesos, estressados e doentes.
Quando temos tempo, pensamos em ir consumir alguma coisa. Talvez passear no supermercado ou shopping. Se formos ao cinema, lá estará nos esperando o mega copo de refrigerante e o de pipoca lotada de manteiga.
O momento é de alerta à sociedade; afinal, é necessário resgatar o que tínhamos de bom. É pertinente perguntarmos: Por que aceitamos isso tudo se sabemos que faz mal? Isso é evolução? Isso seria uma vida moderna ou um infortúnio? Pensem...
*Marçal Rogério Rizzo: economista e professor doutor da UFMS – Campus de Três Lagoas(MS). e-mail: marcalprofessor@yahoo.com.br

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