Consciência Negra na escola pública

Prof. Dr. Silvio Luiz Lofego
Como toda data comemorativa, incorporada ao calendário escolar, muito do seu significado, por vezes, perde-se no próprio processo de ressignificação, distanciando-se de sua proposta inicial. É o caso do Dia Nacional da Consciência Negra. A data é uma conquista do movimento negro brasileiro, que pretende, antes de mais nada, conscientizar a sociedade da importância da cultura negra na formação da identidade nacional e chamar para as injustiças cometidas ao longo dos últimos séculos. Para isso, é relevante desconstruir tabus e preconceitos que envolvem o negro na história brasileira. A data referente à morte de Zumbi, líder emblemático do Quilombo dos Palmares, é um pretexto simbólico para se debater o papel do negro como sujeito formador da cultura nacional e compreendê-lo como protagonista das lutas e conquistas.
Os desafios para se alcançar tais objetivos passam pela superação de estereótipos produzidos por uma hegemonia branca, que, mesmo depois de décadas do fim da escravidão, ainda resistem a entender a contribuição do negro e sua especificidade cultural. Muitos ainda tecem um olhar distorcido sobre a cultura negra. É comum, nesse momento de celebração da "consciência negra", haver uma exaltação a alguns personagens negros, como Pelé, Milton Nascimento, Joaquim Barbosa, dentre outros, como forma de mostrar a "capacidade" do negro. Embora carregada de boas intenções, essa forma de mostrar o negro pode indicar uma maneira camuflada de preconceito. A ciência contemporânea já provou o quanto é bobagem essa ideia de superioridade racial.
O que falta é respeito à diferença. Não apenas a diferença de cor, mas respeito à diferença cultural. No Brasil, isso ainda é gritante, pois a cultura afro sofre constantes ataques e perseguição, até mesmo daqueles que se julgam não ter preconceito. Um desrespeito dos visíveis à cultura afro está na religião. Desde que chegou ao Brasil, a religiosidade africana tem sido alvo de todo tipo de termo pejorativo. Se queremos de fato, falar em respeito ao negro, em cidadania e igualdade, devemos respeitá-lo em todos os seus aspectos. Por essa razão, destaco o trabalho realizado pela professora Jovana Penteado, Escola Estadual Vanir Ferrero Moraes, do munícipio de Guzolândia. Jovana foi aluna do curso de História da Unijales, da qual tive a imensa satisfação de ter sido seu professor. Segue o relato enviado pela professora:
Desfile de orixás


"A exposição escolar, focando na cultura afro, foi fruto de muito trabalho e dedicação dos estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Escola Estadual Vanir Ferrero Moraes, de Guzolândia, sob a supervisão das professoras Jovana Amorim Penteado e Veronilda Gonçalves de Abreu, juntamente com a coordenadora do Ensino Médio, Ednéia Soares de Azevedo. O trabalho consistiu em desenvolver uma pesquisa com enfoque nas religiões da cultura Afro no Brasil. Centrado no Candomblé, os alunos desenvolveram um desfile com trajes típicos que caracterizam os orixás (deuses africanos). Desse modo, destacaram-se Iemanjá (deusa do Mar) e Ogum (orixá da guerra), pelos alunos do 1º C; Logum Edê (orixá da elegância),1ºA; OBA (orixá guerreira), 2ºA; Oxum, (Deusa do Ouro, e da maternidade) e Oxossi (orixá da caça), 1ºB; Nanã (Orixá mais velha e mãe dos outros orixás), 8ªA. O Omulu, interpretado pelo aluno Renato Miguel (orixá representante da cura/doença), 2ºB, e a linda Iansã, interpretada pela aluna Andressa (deusa das tempestades e paixões), 2ºB. Durante esse processo de aprendizagem, ocorreram dois "milagres", desses que só ocorrem na educação. Um dos alunos, muito tímido, deu um show de interpretação e, outro, que estava completamente afastado da escola, retornou ao ambiente escolar. Parabéns a todos que participaram dos trabalhos. Conhecimento é a única forma de acabar com o preconceito".
Professora Jovana Penteado

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