O essencial mandato do vereador

*Dirceu Cardoso
Pipocam por todo o Brasil notícias de vereadores recebendo vantagens indevidas para exercerem o nobre mandato que o povo lhes confere. São propinas, mensalinhos, mordomias e até o desvio de verbas públicas. Nos últimos dias, o fato repetiu-se em Londrina (PR), onde um vereador, o chefe de gabinete da prefeitura e um empresário foram presos sob a alegação de pagar R$ 40 mil a outro vereador, para livrar o prefeito de uma CPI.
O vereador é o único dos eleitos a exercer sua atividade em contato direto com a população. É ele quem faz a ligação do cidadão com o prefeito, de acesso mais restrito principalmente nas médias e grandes cidades. Como tal, fica sabendo exatamente as necessidades e, se quiser, tem a oportunidade de fazer um grande trabalho, fiscalizando e orientando a ação da Prefeitura e até a destinação e emprego das verbas estaduais e federais que chegam ao município. Já dizia um ilustre professor: todos moramos no município, não no estado e nem na união.
Quando sai em busca dos votos para sua eleição, o candidato a vereador assume uma série de compromissos com o povo. É esse conjunto de propostas que motiva o eleitor a dar-lhe o seu voto e, na somatória, elegê-lo para o cumprimento de um mandato de quatro anos. Infelizmente, grande número dos eleitos, desonra o voto popular antes de tomar posse, ao trocar o seu voto para a presidência da Câmara por cargos no governo, dinheiro ou outras vantagens. A partir desse momento, sua representação é enfraquecida e, em vez de defender o interesse do eleitor, ele vira refém de quem o comprou e passa a defender o próprio interesse ou, no máximo, o de seu grupo familiar ou de cabos eleitorais. Daí a decepção do eleitor, que passa a qualificá-lo com termos ofensivos e estende essa má imagem a toda a classe política.
O vereador, para cumprir bem sua obrigação, não pode estar seduzido pelos cargos que o prefeito lhe permite nomear e muito menos pelo dinheiro sujo retirado direta ou indiretamente dos cofres públicos. Também não precisa e nem deve ser oposição sistemática e cega. Sua missão só se concretiza quando, com o conhecimento vindo do contato diário com a população, ele estuda os problemas da cidade e propõe as soluções. É isso que, via-de-regra, todos prometem na hora de pedir o voto, mas não cumprem depois de eleitos.
A corrupção – em menor ou maior escala – é coisa antiga. Na cidade do interior paulista onde vivi parte da adolescência, conta-se que, naquele tempo, ao eleger-se para o primeiro mandato, um humilde vereador foi abordado pelo seu colega candidato à presidência da Câmara, que lhe perguntou "do que precisava" para nele votar. Sem saber do real valor seu primeiro voto legislativo, pediu uma carroça de esterco. Recebeu-a e votou conforme o prometido. As flores do seu jardim ficaram bonitas, mas seu mandato começou mal.
Seja fezes de cavalo ou milhões, a corrupção é a mesma, e precisa se banida da prática política. Só assim o político nacional poderá recuperar o seu prestígio e principalmente o respeito da população.
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) aspomilpm@terra.com.br

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